Você já se viu mergulhado em lembranças do passado, sentindo uma mistura de nostalgia e reconexão? Imagine essa cena: um homem entra em uma caverna, seus olhos exploram o ambiente antes de colocar os fones de ouvido e dar play em seu Walkman. A icônica "Come and Get Your Love" da banda Redbone começa a tocar, e ele se entrega à dança, totalmente imerso em suas lembranças. Essa cena marcante abre o primeiro filme da trilogia "Guardiões da Galáxia". Mas por que um herói intergaláctico como Peter Quill escolheria uma fita K7 para sua trilha sonora? A resposta está na conexão emocional que essas músicas representam para ele, especialmente com sua mãe, cuja ausência ele sente profundamente.
O uso da fita K7 foi um recurso sagaz que o diretor e roteirista, James Gunn, utilizou para despertar nostalgia naqueles que assistiam, ao mesmo tempo em que apresentava a nostalgia do personagem.
Todos nós em algum momento somos invadidos pela nostalgia. Podemos reagir de maneiras muito diferentes a isso, pois alguns de nós acaba por exibir um leve sorriso com a lembrança daquele bom tempo que não volta mais; outros podem acabar derramando pequenas lágrimas que apertam o coração por pensar naquele tempo que não volta mais.
Parece que a nostalgia não é algo fácil de ser definido.
Estudiosos admitem que encontram dificuldades em apontar se a nostalgia remete-se mais à felicidade ou à tristeza {2} {6}, e terminam por considerar que esse sentimento é ambivalente, ou seja, dependendo do contexto pode adquirir noções diferentes na pessoa. Para alguns trará bem-estar, para outros depressão {4}.
Em um estudo publicado em 2016 a pesquisadora Sandra Garrido constatou que a personalidade da pessoa pode influenciar quanto ao modo de encarar a nostalgia {4}. Verificou-se que quando a pessoa se encontra em um estado de felicidade, a nostalgia pode servir como reforçador da sensação de uma vida boa que tem sido vivida, porém, se a nostalgia servir como mediadora entre a pessoa e seu estado depressivo, a situação pode simplesmente piorar. Nesse segundo caso, a autora considera que a nostalgia entra no traço de personalidade do Neuroticismo. Ou seja, um traço voltado mais para a depressão, hostilidade, ansiedade e insegurança (esse traço compõe os chamados 'Cinco Grandes' traços da personalidade, para saber mais sobre isso confira as referências {1} e {5} que se encontram no final do texto).
Assim, a nostalgia pode ser usada como uma ruminação do passado, assumindo o papel de mediadora da depressão {6}, ou pode ser empregada como reflexão, ofertando sentido e felicidade àquele que se embebe desse passado {3} e {7}.
A verdade é que a nostalgia nos conduz para o local que pertencemos. Ela funciona em diversos momentos como uma estratégia psicológica para lidarmos com as perdas trazendo harmonia para a vida {8}. Então, o estrangeiro, que se encontra longe de seu país, e questiona a si mesmo acerca do propósito de sua mudança, é invadido com a lembrança de sua terra natal e assim, mesmo que por um instante, parece estar na família novamente. Do mesmo modo aquela mulher que tem por volta dos seus 30 anos, lidando com as complicações do trabalho e encarando a difícil tarefa de equilibrar suas responsabilidades, saudosamente relembra sua infância, quando corria sem preocupações pela rua.
Queremos pertencer!
Como está a sua nostalgia? Como você tem lidado com seu passado? Como está sua saúde emocional? Se precisar de ajuda entre em contato, estarei aqui para ser seu apoio.
Referências:
{1} Bainbridge, T. F., Ludeke, S. G., & Smillie, L. D. (2022). Evaluating the Big Five as an organizing framework for commonly used psychological trait scales. Journal of Personality and Social Psychology, 122(4). https://doi.org/10.1037/pspp0000395
{2} Barrett, F. S., Grimm, K. J., Robins, R. W., Wildschut, T., Sedikides, C., & Janata, P. (2010). Music-evoked nostalgia: Affect, memory, and personality. Emotion, 10(3), 390–403. https://doi.org/10.1037/a0019006
{3} Bauer, J. J., McAdams, D. P., & Sakaeda, A. R. (2005). Interpreting the Good Life: Growth Memories in the Lives of Mature, Happy People. Journal of Personality and Social Psychology, 88(1), 203–217. https://doi.org/10.1037/0022-3514.88.1.203
{4} Garrido, S. (2018). The influence of personality and coping style on the affective outcomes of nostalgia: Is nostalgia a healthy coping mechanism or rumination? Personality and Individual Differences, 120, 259–264. https://doi.org/10.1016/j.paid.2016.07.021
{5} Papalia, D. E., Sally Wendkos Olds, Ruth Duskin Feldman, & Martorell, G. (2013). Desenvolvimento humano (12ed.). ArtMed.
{6} Ribeiro, M. G. C., Gouvei, V. V., Rezende, A. T., Loureto, G. D. L., & Silveira, L. J. B. (2021). Escala de Disposição à Nostalgia: Desenvolvimento e Evidências Psicométricas. Revista Avaliação Psicológica, 20(01). https://doi.org/10.15689/ap.2021.2001.15974.01
{7} Routledge, C., Arndt, J., Wildschut, T., Sedikides, C., Hart, C. M., Juhl, J., Vingerhoets, A. J. J. M., & Schlotz, W. (2011). The past makes the present meaningful: Nostalgia as an existential resource. Journal of Personality and Social Psychology, 101(3), 638–652. https://doi.org/10.1037/a0024292
{8} Sedikides, C., Wildschut, T., Routledge, C., Arndt, J., Hepper, E. G., & Zhou, X. (2015). To Nostalgize. Advances in Experimental Social Psychology, 51, 189–273. https://doi.org/10.1016/bs.aesp.2014.10.001
Muito bom, Guga!
Que texto! Me levou a refletir e reviver momentos de nostalgia que vivi.
Muito bom sua síntese sobre o assunto 👏🏼👏🏼