O dia amanheceu e aquele jovem só queria ficar enrolado na coberta por mais alguns minutos, porém, estava em cima da hora para o trabalho.
Levantou-se. Colocou uma camisa. Não tirou o short do pijama. Ligou o computador e convidou todos para uma reunião de rotina. Morava sozinho e a pandemia da COVID-19 estava destruindo seu psicológico.
Essa foi uma situação muito comum para várias pessoas durante a grande pandemia que fechou o mundo durante os anos de 2020 e 2021. Na verdade, essa continua sendo a realidade de muitos, apesar do término da pandemia. Um evento que tornou mais evidente a necessidade que temos de relações sociais genuínas e presenciais. A importância das relações sociais na saúde mental.
John Donne, no século XIX, escreveu a famosa reflexão:
"Nenhum homem é uma ilha, inteiramente isolado; todo homem é um pedaço de um continente, uma parte de um todo." {2}
Pois realmente não somos ilhas, pois nossa natureza é de ser social, de relação, e a ausência desta traz grandes prejuízos de ordem psicológica, do desenvolvimento de ideias e de tecnologias {6}.
Durante a pandemia da COVID-19 o mundo precisou enfrentar os terríveis confinamentos, lockdowns, que punham a todos em reclusão. Porém, não sem os efeitos sociais negativos como os abalos nas redes sociais e de suporte, interações prejudicadas pela falta de contato pele-a-pele que ficaram limitadas ao virtual {3}.
Mesmo os adolescentes foram profundamente impactados. Apesar deste período da vida ter o sentimento de solidão como algo comum, o isolamento social da pandemia trouxe prejuízos para a saúde mental destes garotos e garotas que por força da situação foram impedidos de verem seus colegas de escola presencialmente todos os dias. Somente aqueles que tinham um bom relacionamento com seus pais tiveram menor impacto com o sentimento de solidão {1} {4}. Pois, indo na contramão do senso comum, mesmo que as gerações mais jovens aparentem ter mais intimidade com a tecnologia, esses foram os que mais sofreram com a privação social em comparação com a geração mais velha {7}.
Assim, deixo aqui o lembrete: Saia e conviva com as pessoas! Isso vai te fazer bem. Um estudo publicado pela 'Society of Behavioral Medicine' demonstrou que o comparecimento a reuniões de culto religioso colaboram para a boa saúde mental, pois, dentre os diversos motivos, a interação com uma comunidade de propósito e proteção traz bem-estar para as pessoas {5}.
Não somos seres ilhados! Somos continentais! Dependemos das relações sociais para vivermos a vida em plenitude. Portanto, abrace as pessoas, esteja no meio de gente, se alegre com a humanidade e experimente as interações. Eu te garanto: você irá começar a viver melhor!
Referências:
{1} Cooper, K., Hards, E., Moltrecht, B., Reynolds, S., Shum, A., McElroy, E., & Loades, M. (2021). Loneliness, social relationships, and mental health in adolescents during the COVID-19 pandemic. Journal of Affective Disorders, 289, 98–104. https://doi.org/10.1016/j.jad.2021.04.016
{2} Donne, J. D. (2006). Meditações. Landmark.
trad.: Fabio Cyrino
{3} Long, E., Patterson, S., Maxwell, K. J., Blake, C., Pérez, R. B., Lewis, R., McCann, M., Riddell, J., Skivington, K., Wilson-Lowe, R. V., & Mitchell, K. (2021). COVID-19 pandemic and its impact on social relationships and health. Journal of Epidemiology and Community Health, 76(2), 128–132. https://doi.org/10.1136/jech-2021-216690
{4} Sommerlad, A., Marston, L., Huntley, J., Livingston, G., Lewis, G., Steptoe, A., & Fancourt, D. (2021). Social relationships and depression during the COVID-19 lockdown: longitudinal analysis of the COVID-19 Social Study. Psychological Medicine, 52(15), 3381–3390. https://doi.org/10.1017/s0033291721000039
{5} Strawbridge, W. J., Shema, S. J., Cohen, R. D., & Kaplan, G. A. (2001). Religious attendance increases survival by improving and maintaining good health behaviors, mental health, and social relationships. Annals of Behavioral Medicine, 23(1), 68–74. https://doi.org/10.1207/s15324796abm2301_10
{6} Umberson, D., & Montez, J. K. (2010). Social Relationships and Health: A Flashpoint for Health policy. Journal of Health and Social Behavior/Journal of Health & Social Behavior, 51(1_suppl), S54–S66. https://doi.org/10.1177/0022146510383501
{7} Vacchiano, M. (2022). How the First COVID-19 Lockdown Worsened Younger Generations’ Mental Health: Insights from Network Theory. Sociological Research Online, 28(3), 884–893. https://doi.org/10.1177/13607804221084723
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